O aumento da rentabilidade da cafeicultura no Brasil e no mundo e o futuro da atividade passam necessariamente por mudanças no sistema de colheita do café. Por ser uma cultura perene, o processo de colheita representa pelo menos 50% dos custos de produção do café. A outra metade do custo fica dividida entre fertilizantes (30%) e demais despesas como água, energia, entre outros custos.
A conclusão de que a colheita é a peça-chave para a rentabilidade da cafeicultura é de um estudo elaborado pela P&A Consultoria, especializada no setor cafeeiro. Segundo o levantamento, a colheita seletiva dos grãos - processo em que os trabalhadores retiram dos pés apenas os grãos maduros - permite um elevado grau de seleção. Esse, porém, é o sistema de maior custo para os cafeicultores.
Levando-se em consideração uma mesma área, com a mesma quantidade de cafeeiros e dentro de um mesmo período de tempo, o sistema de derriça manual - em que o trabalhador retira todos os grãos de café do pé com as mãos - permite a colheita de um volume de três a cinco vezes maior do que no processo seletivo dos grãos.
"Diferentemente do que foi colocado historicamente pelos colombianos, a colheita seletiva do café não interfere na qualidade do produto final. Para se ter um café de alta qualidade na xícara você precisa de grãos 100% maduros, mas não que tenham sido 100% colhidos de forma seletiva", afirma Carlos Brando, diretor-presidente da P&A.
Há outras desvantagens no sistema de colheita seletiva, segundo ele. Quando se leva em consideração a chamada derriça mecânica - sistema que utiliza um instrumento em forma de garras para realizar a colheita - , além de haver uma substituição da mão humana pela "mão" mecânica, os volumes colhidos superam em 20 vezes o sistema seletivo e em até quatro vezes a derriça manual.
Quando a avaliação da consultoria leva em conta a colheita feita com colheitadeiras mecânicas as diferenças são maiores. Além de ser um trabalho menos desgastante para o agricultor, permitir uma colheita seletiva e ter um baixo custo, a máquina colhe um volume 500 vezes maior que o sistema seletivo, 100 vezes superior à derriça manual e 25 vezes maior que a derriça mecânica.
Hoje, no Brasil, apenas 1% da colheita do café é feita de forma seletiva. Na maior parte dos casos, o processo é feito por meio da derriça, seja ela mecânica (15%) ou manual (61%), sendo que aproximadamente 18% é feito por meio de colheitadeiras. "Essa sempre foi a vantagem competitiva que o Brasil teve. O café chegava mais barato porque o sistema de colheita utilizado era mais eficiente, só que isso está mudando", afirma Brando.
O consultor avalia que a vantagem brasileira está sendo consumida pelo desvalorização do real em comparação com o dólar. Por esse motivo, Brando defende que haja uma migração da colheita por derriça manual para a derriça mecânica e, quando possível, para a colheita mecanizada com um sistema de irrigação.
As alterações no sistema de colheita podem fazer bastante diferença. Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indicam que na Bahia, onde predomina a colheita mecanizada e o uso de irrigação, os custos de mão de obra representam apenas 9%, enquanto defensivos e fertilizantes somam 41%. Já em Guaxupé, no sul de Minas Gerais, onde as colheitadeiras são raras, o gasto com mão de obra, fixa e temporária, representa quase 50% do custo de produção.
Na Colômbia, praticamente toda a colheita do café é feita de forma seletiva, o que consequentemente exige um elevado volume de mão de obra. Apesar disso, Brando afirma que é possível identificar cerca de 3% de grãos verdes no café colombiano, quando não deveria existir nenhum. "O que é preciso ficar claro é que existe mercado para todos os tipos de café, tanto para os grãos maduros quanto para os verdes", afirma o consultor.
Geralmente, os grãos maduros são utilizados para a produção dos cafés finos e especiais, consumidos nos expressos. Já os grãos verdes, que não atingiram o ponto ideal de maturação e, por isso, não absorveram as melhores características da planta, são utilizados para a produção de bebidas tradicionais, consumidas em casa, com coador e também para café solúvel.
Especialistas consideram que mudanças são realmente necessárias. Dados da Conab mencionados em um estudo do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Banco Brasdesco mostram que o setor, especialmente o de café arábica, enfrenta problemas de rentabilidade. Em Guaxupé, por exemplo, o setor fechou 2009 com um prejuízo operacional de 9%, considerando um custo médio de R$ 281,10 por saca e um valor médio recebido pelo produtor de R$ 256,18 por saca.
Fonte: Sincafé