segunda-feira, 5 de abril de 2010

Por uma colheita segura

O agronegócio do café é a principal atividade econômica do Espírito Santo. A colheita do produto é o período que mais movimenta a economia dos municípios do norte capixaba e, também, a época que mais gera emprego temporário no Estado. É nessa ocasião que muitos trabalhadores de outras regiões vêm atrás de um emprego nos principais centros produtores. Porém, a violência chega junto com alguns deles que utilizam a oportunidade de trabalho para fugir da polícia e cometer crimes no campo e nas cidades. Os municípios precisam se prevenir para evitar que o período próspero da colheita não vire um tormento para a população.

Sooretama, terceiro maior produtor de conilon do Estado, é um dos municípios que registra aumento de violência durante o período da colheita de café. De acordo com o secretário municipal de agricultura, Alcino Silva, na época da colheita, por exemplo, há um aumento de roubos de motos e sequestros na cidade. “Muitos trabalhadores de outros Estados, como a Bahia, não voltam para a cidade de origem quando termina a colheita e ficam em Sooretama causando alguns transtornos”, diz

Existe uma preocupação em relação a segurança durante a colheita de café. Com altos índices de violência no campo registrado nos últimos anos, a situação em Sooretama chama a atenção das autoridades. O uso em excesso de bebidas alcoólicas favorece as confusões entre os trabalhadores. De acordo com Silva, a administração municipal ainda não tem um programa especifico para evitar os altos índices de violência no campo, mas pretende se movimentar. “Vamos, em parceria com a Polícia Militar, tomar alguma providencia que possa diminuir os casos de furtos, brigas e crimes no município. Aumentar o número de policiais na cidade na época da safra de café e orientar os produtores nas contratações. Temos que ter um controle sobre a situação”, afirma.

No município de Vila Valério, principal produtor da varidade conilon no Estado, os casos de violência durante a colheita acontecem de forma mais isolada. O presidente do Sindicato Rural da cidade, Nilson Izoton de Almeida, diz que os crimes só acontecem quando trabalhadores de fora chegam ao município já com algum indício ou sem intenção de trabalhar. “Mas os casos de violência são poucos. A maioria dos produtores contrata pessoas conhecidas, e essa é a principal orientação que damos para eles no período de colheita. Além disso, eles contam com pessoas de confiança nos lugares de contratação dos trabalhadores, como na Bahia e em Minas Gerais. Essas pessoas fazem a seleção de quem vai trabalhar na safra e procuram selecionar trabalhadores com boas referências”, explica.

Na hora de contratar os trabalhadores, segundo Izoton, a Polícia Militar puxa a ficha das pessoas para verificar se não existe nenhum indício criminal. “Isso já inibi os bandidos, que automaticamente vão embora. Quando os produtores percebem que alguns dos trabalhadores têm algo de errado, eles não contratam. O período da colheita em Vila Valério é tranquilo”, afirma.

Em Linhares, principal pólo econômico da região norte, algumas medidas já estão sendo tomadas para evitar os casos de violência. A Polícia Militar criou um policiamento específico para a época da colheita, é o policiamento rural. Segundo o tenente da 3ª Companhia Independente da PM, Rony Natali, esse método funciona há dois anos e colaborou para redução de crimes na cidade. “Antes, as reclamações dos agricultores sobre objetos, equipamentos, e até animais que sumiam na propriedade eram constantes. Depois que implantamos o policiamento rural, a quantidade de reclamações diminuiu”, afirma o tenente.

Tenente Rony Natali: atenção na hora de contratar

O policiamento ocorre nas propriedades rurais do município. Os policiais vão até o local e fazem o cadastramento dos trabalhadores. Além disso, eles orientam os produtores na hora da contratação. “Pedimos cuidado na hora de contratar alguém. Peçam referência da pessoa e procurem saber a origem do trabalhador, onde ele pode ser encontrado faça algo de errado”, salienta Natali.

Sistema semelhante foi criado em Jaguaré. Desde abril de 2006, uma campanha para diminuir a quantidade de casos de violência no município e impedir que bandidos de outras regiões se empreguem na cidade no período da colheita de café foi implantada na cidade: a Campanha Safra. O maior número possível de trabalhadores é cadastrado em um sistema de dados interligados ao Poder Judiciário, Ministério Público e as Polícias Civil e Militar. A iniciativa é do Conselho Municipal de Segurança de Jaguaré e possibilita investigar qualquer pendência criminal do cadastrado.

Segundo o presidente interino do Conselho, Edinardo Carminate, na última safra, o sistema cadastrou cerca de 624 trabalhadores. A medida tem colhido bons resultados. “Diminuiu o indício de assaltos e homicídios. A campanha está inibindo o crescimento da criminalidade em Jaguaré durante a colheita, quando milhares de trabalhadores chegam a cidade”, diz, lembrando que 80% dos contratados para a colheita são de outras regiões e estados.

Com a elaboração prévia da ficha do trabalhador é possível evitar contratações suspeitas. Em Jaguaré, já ocorreu casos de pessoas com mandados de prisão, ou casos de roubos e homicídio, serem identificadas no momento do cadastro. A campanha Safra pode ser adotada por qualquer agricultor e não é obrigatória. Para participar da campanha, o produtor deve ficar atento aos veículos de comunicação. Em março e abril, antes do início da safra, a campanha é divulgada nas rádios, TV e outros meios. A partir daí, o agricultor interessado pode procurar o Conselho de Segurança e levar os trabalhadores que serão contratados para a realização do cadastro no local. “É importante que o produtor adote o método. Isso pode contribuir para segurança da propriedade dele e da cidade em que mora”, recomenda Carminate.

Movimento pede paz no campo

Preocupado com a onde violência na zona rural do Estado, o Movimento Paz no Campo (MPC) vem lutando pela melhoria da segurança no interior. De acordo com o presidente do MPC, Edivaldo Permanhane, os casos de violência acontecem não só no período de colheita do café, mas o ano todo. “Na colheita aumenta um pouco, mas a insegurança é geral”, diz. Segundo ele, é preciso uma mudança na política de segurança para que o produtor consiga trabalhar com tranquilidade. “Ao invés de ficar vigiando só o meio ambiente, tem que vigiar é o produtor rural que não tem coragem nem de dormir na sua propriedade por causa da insegurança”, afirma Permanhane.
Fonte: Faes (Federação da Agricultura e Pecuária do Espírito Santo)

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