Se insistir em um conflito com o Brasil, a Argentina tem mais a perder do que a ganhar. No primeiro trimestre do ano, o país vizinho importou US$ 81 milhões em alimentos processados dos produtores brasileiros, quase metade do total que adquiriu do mundo. Em contrapartida, vendeu US$ 190 milhões para o País, um quinto de suas vendas totais desse grupo de produtos.
Na sexta-feira passada, o secretário de Comércio da Argentina, Guillermo Moreno, avisou aos supermercadistas que, a partir de primeiro de junho, estará proibida a importação de alimentos processados que também sejam feitos localmente, conforme noticiou o Estado na edição de ontem. Em 10 de junho, fiscais da secretaria prometem percorrer as gôndolas dos supermercados em busca de infrações.
Se a medida realmente entrar em vigor, uma alta fonte do governo brasileiro já avisou que vai retaliar a Argentina em alimentos similares aos que forem atingidos. Oficialmente, ministério do Desenvolvimento e Itamaraty informaram que não foram notificados sobre o assunto. As estimativas de impacto no comércio bilateral foram feitas pela consultoria Abeceb.com, sediada em Buenos Aires. Os produtos mais afetados são cacau e chocolate, preparações alimentícias diversas (molho de tomate, entre outros), café ou chá, e preparações de hortaliças e frutas. O Brasil fornece 82% do cacau e chocolate e 74% do café e chá importados pelos argentinos.
Esses dados ainda são preliminares porque o governo da presidente Cristina Kirchner não divulgou oficialmente a lista de produtos que serão barrados. O aviso feito por Moreno foi apenas verbal. Os supermercadistas pedem ao governo informações mais precisas para se planejar.
Ainda há muita confusão sobre o que teria motivado o governo argentino a tomar essa medida, que vai impedir os consumidores de terem acesso a alimentos importados. Segundo fontes argentinas, Cristina Kirchner estaria tentando agradar os produtores de alimentos e, em contrapartida, garantir uma maior oferta de produtos no mercado interno e segurar os preços. Com o peso desvalorizado, o incentivo para a exportação de alimentos é significativo no país, o que está impulsionando a inflação e elevando o custo de vida para as famílias argentinas.
"Dificilmente o governo conseguirá mobilizar os produtores argentinos, porque essa medida não os beneficia. Uma grande quantidade de empresas de alimentos estão situadas no Brasil e na Argentina, com produtos complementares para atender os dois países", avaliou o economista da consultoria Abeceb.com, Maurício Claverí.
Reação. No Brasil, o setor de alimentos está preocupado e pede uma reação do governo. "É um atentado contra as regras do Mercosul. O setor de alimentos é o principal gerador de superávit para a balança comercial brasileira e merece uma atenção especial do governo", disse o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), Edmundo Klotz.
Ele disse que informou o Ministério do Desenvolvimento do problema na última sexta-feira, e está confiante que o assunto será resolvido por meio de negociação ou que o governo tomará uma atitude enérgica.
"Nós estamos espalhados pelo mundo, vendemos para mais de 120 países. A Argentina é que precisa aumentar suas vendas para o Brasil para sair da crise", completou.
Para o diretor de relações internacionais da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Carlos Sperotto, "se a Argentina seguir em frente com essa medida, será uma aberração no Mercosul". Ele também acredita que, se o Brasil retaliar, o impacto é muito maior para os argentinos que para os brasileiros.
"A Argentina vende trigo e milho para o Brasil na mesma época em que nossos produtores estão colhendo a safra. Temos trigo estocado aqui e continuamos importando deles", disse Sperotto, que também é presidente da Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul).
Para Lembrar
Antes desse novo conflito, Brasil e Argentina atravessavam um período de calmaria nas relações comerciais. A Argentina agilizou a liberação das licenças de importação, um procedimento burocrático que atormenta os empresários. Adotadas após a crise para conter as importações, as licenças demoravam mais de 120 dias e prejudicavam a venda de produtos brasileiros como calçados, têxteis e eletrodomésticos. Os argentinos só cederam depois que o Brasil retaliou.
Fonte: O Estado de S.Paulo
Na sexta-feira passada, o secretário de Comércio da Argentina, Guillermo Moreno, avisou aos supermercadistas que, a partir de primeiro de junho, estará proibida a importação de alimentos processados que também sejam feitos localmente, conforme noticiou o Estado na edição de ontem. Em 10 de junho, fiscais da secretaria prometem percorrer as gôndolas dos supermercados em busca de infrações.
Se a medida realmente entrar em vigor, uma alta fonte do governo brasileiro já avisou que vai retaliar a Argentina em alimentos similares aos que forem atingidos. Oficialmente, ministério do Desenvolvimento e Itamaraty informaram que não foram notificados sobre o assunto. As estimativas de impacto no comércio bilateral foram feitas pela consultoria Abeceb.com, sediada em Buenos Aires. Os produtos mais afetados são cacau e chocolate, preparações alimentícias diversas (molho de tomate, entre outros), café ou chá, e preparações de hortaliças e frutas. O Brasil fornece 82% do cacau e chocolate e 74% do café e chá importados pelos argentinos.
Esses dados ainda são preliminares porque o governo da presidente Cristina Kirchner não divulgou oficialmente a lista de produtos que serão barrados. O aviso feito por Moreno foi apenas verbal. Os supermercadistas pedem ao governo informações mais precisas para se planejar.
Ainda há muita confusão sobre o que teria motivado o governo argentino a tomar essa medida, que vai impedir os consumidores de terem acesso a alimentos importados. Segundo fontes argentinas, Cristina Kirchner estaria tentando agradar os produtores de alimentos e, em contrapartida, garantir uma maior oferta de produtos no mercado interno e segurar os preços. Com o peso desvalorizado, o incentivo para a exportação de alimentos é significativo no país, o que está impulsionando a inflação e elevando o custo de vida para as famílias argentinas.
"Dificilmente o governo conseguirá mobilizar os produtores argentinos, porque essa medida não os beneficia. Uma grande quantidade de empresas de alimentos estão situadas no Brasil e na Argentina, com produtos complementares para atender os dois países", avaliou o economista da consultoria Abeceb.com, Maurício Claverí.
Reação. No Brasil, o setor de alimentos está preocupado e pede uma reação do governo. "É um atentado contra as regras do Mercosul. O setor de alimentos é o principal gerador de superávit para a balança comercial brasileira e merece uma atenção especial do governo", disse o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), Edmundo Klotz.
Ele disse que informou o Ministério do Desenvolvimento do problema na última sexta-feira, e está confiante que o assunto será resolvido por meio de negociação ou que o governo tomará uma atitude enérgica.
"Nós estamos espalhados pelo mundo, vendemos para mais de 120 países. A Argentina é que precisa aumentar suas vendas para o Brasil para sair da crise", completou.
Para o diretor de relações internacionais da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Carlos Sperotto, "se a Argentina seguir em frente com essa medida, será uma aberração no Mercosul". Ele também acredita que, se o Brasil retaliar, o impacto é muito maior para os argentinos que para os brasileiros.
"A Argentina vende trigo e milho para o Brasil na mesma época em que nossos produtores estão colhendo a safra. Temos trigo estocado aqui e continuamos importando deles", disse Sperotto, que também é presidente da Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul).
Para Lembrar
Antes desse novo conflito, Brasil e Argentina atravessavam um período de calmaria nas relações comerciais. A Argentina agilizou a liberação das licenças de importação, um procedimento burocrático que atormenta os empresários. Adotadas após a crise para conter as importações, as licenças demoravam mais de 120 dias e prejudicavam a venda de produtos brasileiros como calçados, têxteis e eletrodomésticos. Os argentinos só cederam depois que o Brasil retaliou.
Fonte: O Estado de S.Paulo
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