Volume reduzido da safra e falta de grãos em todo o mundo fazem subir o preço da commodity e deixam a dúvida: faltará produto para abastecer o mercado?
A tão esperada alta dos preços do café finalmente chegou ao mercado brasileiro, mas não animou. O que em outros tempos seria motivo de euforia para os produtores, dessa vez veio acompanhada de um certo receio por parte de todo o setor. Isso porque a elevação nos preços trouxe a sombra da falta de grãos para atender à demanda do mercado. Só no Brasil, a safra 2009/2010 está estimada em 50 milhões de sacas, 10% menor do que os 55 milhões previstos. Enquanto isso, o consumo interno passou dos 17,65 milhões de sacas entre novembro de 2007 e outubro de 2008, para 18,39 milhões de sacas.
Associação dos Produtores de Café da Bahia (Assocafé), após 12 anos de preços baixos, o valor da saca começa a se recuperar, mas ainda é insuficiente para cobrir os custos de produção. Ele explica que o preço ideal para os produtores em todo o mundo seria de USS 400 a saca, valor que hoje não ultrapassa os US$ 200. "Com o dólar baixo, o produtor brasileiro continua no prejuízo", esclarece.
Imprevistos à parte, um setor que vem sofrendo menos os efeitos dessa falta de grãos é o segmento de cafés especiais. Segundo Túlio Junqueira, presidente da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), o setor sofreu menos os impactos porque ainda responde por uma pequena parcela de toda a produção no Brasil. Mesmo assim, o consumo desses tipos de café cresce a olhos vistos, entre 10% e 15% ao ano. Só no Brasil, existem cerca de 150 marcas. "Isso se deve ao advento das cafeterias e à abertura de mercados no Oriente, onde a tradição é o chá", explica Junqueira. O problema, porém, é que, se não houver uma recuperação no volume das safras, haverá falta de grãos em todos os setores, já que até setembro deste ano as vendas do café brasileiro cresceram 6,5%, superior aos 5% previstos no início do ano. Enquanto isso, os estoques estão operando no limite, com volume abaixo do esperado. "E o consumo interno cresce em torno de 5% ao ano", sentencia Araújo.
Mesmo diante das incertezas, os produtores de café estão habituados às oscilações.Tradicionalmente, a cultura do café sofre com a questão da bianualidade, em que uma safra excelente é sempre seguida por outra com menor produtividade. "O problema é que neste ano as variações climáticas também nos prejudicaram", declara Araújo. No mercado internacional, a quebra na safra da Colômbia, terceira maior produtora de café do mundo, também contribuiu para a elevação dos preços e redução dos estoques. A produção caiu dos 12 milhões para pouco mais de 8 milhões de sacas. "Espera-se que a recuperação comece já na próxima safra", explica Fernando Terão Pereira, consultor da AgraFNP. Essa mesma recuperação deve acontecer no Brasil na próxima temporada. "Com isso, os preços devem se estabilizar em um patamar melhor", calcula Herszkowicz. Será uma chance para que os produtores possam voltar a sentir o aroma de cafezais lucrativos no ar.
Fonte: Dinheiro Rural
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