Após uma década afastada do comando da Organização Internacional do Café (OIC), o Brasil quer voltar a controlar os rumos da outrora poderosa associação de 77 países produtores e consumidores do grão no planeta.
O mais cotado para ocupar a diretoria-executiva do organismo a partir de 2011 é o economista Robério Oliveira Silva, atual diretor do Departamento do Café do Ministério da Agricultura. O ex-diretor Néstor Osório será embaixador da Colômbia nas Nações Unidas - hoje, a direção está a cargo do interino brasileiro José Sette. A OIC voltará a ganhar peso com o retorno dos Estados Unidos após 21 anos afastado da associação.
A indicação de Robério Silva, que já presidiu a Associação dos Países Produtores de Café (APPC), tem aval da bancada ruralista do Congresso e da cúpula do Ministério da Agricultura e do Itamaraty. Mas há uma parte do setor privado que prefere ver na cadeira o atual presidente da Câmara Setorial do Café e diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), Nathan Herszkowicz.
A indicação de um nome forte do Brasil dependerá, porém, da ratificação do novo Acordo Internacional do Café pelo Congresso Nacional. Maior produtor e exportador mundial de café, o Brasil está atrasado nos procedimentos. "Esse novo acordo será elemento importante para transformar a OIC. Ela precisa de mudanças na estrutura", disse Robério na Câmara.
Aprovado pelo governo brasileiro em maio de 2008, o acordo foi fechado em 2007 na OIC, mas vinha enfrentando oposição interna na Câmara. Alguns deputados queriam aumentar o controle sobre a indicação do novo diretor. Mas uma reunião conjunta das comissões de Agricultura e de Relações Exteriores serviu, na terça-feira, para acelerar o processo e selar uma trégua política na Câmara.
Como resultado, as comissões de Agricultura e de Constituição e Justiça aprovaram ontem, por unanimidade, o novo acordo da OIC. "Só podemos lançar candidato se aprovarmos o relatório", diz o deputado Silas Brasileiro (PMDB-MG), um dos relatores da proposta que será enviada ao Senado. "A participação do Brasil na OIC é essencial. Isso nos permitirá lançar candidatura no próximo ano. A OIC terá o rumo que ajudarmos a conformar", disse o subsecretário de Assuntos Econômicos do Itamaraty, Evandro Didonet.
O acordo tem alguns avanços considerados importantes pelo setor cafeeiro. Prevê, entre outras medidas, a alavancagem de recursos para países produtores em dificuldades financeiras, uma espécie de seguro contra épocas de "vacas magras". O dinheiro para ajudar pequenos e médios produtores sairia de um fundo comum operado pelo Banco Mundial. O acordo da OIC também prega a produção dentro de padrões de "sustentabilidade" ambiental, social e econômica.
O texto também projeta melhoria nas estatísticas de oferta e consumo, além de "intenso trabalho" de promoção comercial do café. "O acordo não é suficiente. Precisa de uma atuação firme, de maior e melhor coordenação entre países produtores", alertou Didonet. Os produtores concordam: "A OIC virou estrutura burocrática, desinteressante. Se Brasil não fizer [reforma], ninguém fará porque EUA e países consumidores são contra", disse o presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), Gilson Ximenes.
Fonte: Valor Econômico
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