Proposta é agregar a compensação por meio de plantio de árvores e melhorias tecnológicas às vantagens do produto e demonstrar preocupação com boas práticas ambientais
A preocupação com as emissões de carbono chegou à cafeicultura. A indústria do cafezinho, que já era o carro-chefe da certificação, com vários selos que atestam qualidade e preocupação com os aspectos ambientais, procura agora sinalizar que é possível compensar emparte o impacto causado pela atividade no clima do planeta. Para isso, colocou no site da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) uma calculadora para contagem das emissões de dióxido de carbono (CO2) específica para as empresas do setor.
“A iniciativa, basicamente uma planilha, visa ampliar a oferta de produtos sustentáveis tanto no mercado interno como para exportação”, diz Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Abic. Ele ressalta que o uso dessa ferramenta não é obrigatório, mas ajuda a agregar valor ao produto pois, além de identificar o volume de gás emitido por ano, sugere estratégias de compensação das emissões.
No cálculo, são consideradas informações sobre gastos de energia elétrica, custos de combustíveis com transportes, viagens aéreas e volume de resíduos sólidos orgânicos que são responsáveis por grande parte das emissões de CO2. “Cada tipo de atividade tem emissões diferenciadas e nosso objetivo foi levantar essas informações de uma forma geral”, diz Claudia Bicudo, consultora da KeyAssociados, responsável pela ferramenta. “De posse desse cálculo geral, depois, cada empresa faz uma análise específica e mais detalhada de suas emissões para ter ideia do que é possível fazer para diminui-las.”
Formas de compensação
Para compensar os efeitos da indústria do café no clima, o sistema sugere algumas opções, como a substituição de tecnologias por outras mais modernas e menos poluentes, a troca de combustíveis fósseis por fontes renováveis ou a adoção de estratégias de redução na utilização de insumos e diminuição na geração de resíduos orgânicos. Segundo Claudia, outra forma de contribuir para diminuir os impactos no clima seria a adesão a projetos ambientais ou a reposição de árvores. São conhecidas, por exemplo, a neutralização de atividades poluentes em setores comerciais e até eventos artísticos com plantio de árvores compensatório. A Key estima que pelo menos 20 produtoras estão calculando suas emissões, algumas por curiosidade outras mais profissionalmente. “Abrimos a possibilidade, agora é por conta dos interessados”, diz Herszkowicz. Uma dessas empresas, a Café Braúna, de Ervália (MG), teve uma boa surpresa ao aderir à medição. “Nós tínhamos curiosidade para saber se o volume de carbono gerado pela nossa torrefação era compensado pelo plantio de árvores”, diz João Mattos, sócio diretor da Braúna. “O primeiro ensaio, realizado em julho, mostrou que estamos bastante equilibrados.”
Pelo menos uma empresa, a Café Bom Dia, de Varginha (MG), já fazia o inventário de suas emissões de forma mais detalhada. A empresa é uma das únicas no mundo a ter uma torrefação com a certificação Carbon Neutral, que atesta a neutralização de emissões de CO2 com o plantio de árvores e melhorias de processo. “Desde a adubação, a colheita, a redução no uso da água, as embalagens, a iluminação, a reutilização de resíduos, nós temos essa preocupação”, diz Sidney Marques de Paiva, presidente da Bom Dia, que tem11 certificações diferentes. “Eu não tenho dúvidas de que a preocupação com as mudanças climáticas será um diferencial tanto quanto a responsabilidade social e ambiental”, complementa.
TRÊS PERGUNTAS A...
...EDSON TERAMOTO
Para o engenheiro agrônomo Edson Teramoto, a preocupação ambiental é maior quando os produtores sentem as exigências do mercado de exportação. Essa preocupação está muito presente no setor alimentício, principalmente no caso do café.
O cálculo das emissões de carbono agrega à certificação na indústria do café?
Essa é uma tendência, e todas as normas que tratam do tema ambiental irão contemplar as emissões de carbono. Conhecer as fontes de emissão, conseguir quantificá-las e principalmente planejar as ações para mitigar essas emissões é um grande desafio para as empresas agrícolas e contribui para as certificações de caráter ambiental e social. Seria desejável que elas fossem consideradas em toda a cadeia produtiva, incluindo, por exemplo, a fabricação de adubos, transportes e processamento.
O público sabe o valor do produto certificado?
A certificação, que se refere às boas práticas agrícolas, sociais e ambientais, ainda é pouco percebida pelo consumidor nacional. Por enquanto a grande demanda por produtos vem da Europa, Estados Unidos e Japão. Isso significa que no Brasil os produtos que visam a certificação são aqueles voltados à exportação, como café, cacau, frutas, suco de laranja, açúcar, etanol e chá preto. Naqueles países,a certificação é valorizada e os consumidores procuram esses produtos.
O excesso de selos e de exigências pode confundir o consumidor?
Sim, isso acontece. O ideal seria que, ao bater o olho no selo, o consumidor prontamente identificasse a mensagem que existe por trás dele. Mas como atualmente existem vários tipos de selo, e até um mesmo produto pode ter vários deles, existe o risco que a confusão faça com que as mensagens se percam, e com isso o selo não cumprirá seu objetivo.
Abic desenvolve programa sustentável
A Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) desenvolve também o Programa Cafés Sustentáveis do Brasil (PCS), alinhado ao conceito de sustentabilidade. A ideia é oferecer café rastreado desde a planta até a xícara, garantido por programas de certificação, verificações nas propriedades e auditorias nas indústrias. Os grãos servem de matéria prima básica — no mínimo 60% da composição do blend — para a produção de cafés tipo superior ou gourmet.
Brasil tem 10% do cultivo certificado
O Brasil é hoje o segundo mercado consumidor de café do mundo, com 18,5 milhões de sacas. Na primeira posição do ranking ainda estão os Estados Unidos. Hoje, somos o maior produtor de café certificado, totalizando 80 mil hectares de plantação em 38 empresas. Dez por cento do café cultivado no país é certificado, sendo a maior parte exportada. Este ano, será atingida a marca de 1 milhão de sacas de café certificado.
Fonte: Brasil Econômico
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