Maior obstáculo para que o Brasil entre na lista que tem 19 países é a resistência dos concorrentes.
O café arábica brasileiro disputa uma chance de ser negociado na Bolsa de commodities de Nova York, a ICE Futures US.
A participação do país, o maior produtor do mundo, está sendo avaliada -a consulta pública foi encerrada em meados de junho-, mas a decisão, que tem boas chances de ser favorável, não tem prazo para sair.
Caso a proposta, apresentada pela Bolsa em maio, seja aprovada por um comitê da ICE, ela pode entrar em vigor em até três anos.
O principal obstáculo para que o Brasil seja incluído em uma lista que hoje tem outros 19 países com cafés certificados é a resistência dos concorrentes -nenhum deles, no entanto, tem poder de vetar a decisão.
Para países como Colômbia e México (contrários à mudança), a qualidade do café brasileiro é inferior e a grande quantidade de grãos que entrariam no mercado depreciaria os preços e prejudicaria seus produtores.
Reportagem do "Financial Times" do mês passado chegou a dizer, ouvindo fontes colombianas e mexicanas, que a entrada do café brasileiro na Bolsa faria crescer o cultivo de drogas.
Juan Esteban Orduz, presidente da Federação de Cafeeiros Colombianos, disse ao jornal que pequenos produtores de café são vulneráveis ao mercado externo.
"Se eles não puderem se sustentar com o café, procurarão outra coisa. E não é segredo que a Colômbia tem problemas com cultivo e colheita ilegais", disse Orduz.
REFÉM DAS DROGAS
"Essa é mais uma forma espúria de tentar deslocar a discussão do tema do plano comercial para o político e explorar a sensibilidade das autoridades americanas para o problema", reage Guilherme Braga, diretor-geral do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil).
"[Esse argumento] foi usado há cinco anos e, agora, com mais veemência. É de perguntar até quando o café brasileiro será refém da droga", afirmou Braga, em entrevista à Folha, por e-mail.
Braga refere-se à última vez em que o Brasil tentou conquistar o certificado da Bolsa para os seus estoques, em 2004, sem sucesso.
A diferença, agora, é que o país tem a seu favor o apoio de tradings que operam na ICE -e que, após recuo na produção de países participantes, inclusive da Colômbia, veem no café lavado e semilavado brasileiro a chance de recompor os estoques.
"Desde a última vez, o volume de arábicas brasileiros entrando no mercado e a aceitação do café cresceram. Com base nisso, nos parece o momento apropriado para revisitar o assunto", escreveu Tim Barry, vice-presidente de desenvolvimento de produto da ICE, na proposta divulgada em maio.
De acordo com Braga, o volume de produção de cafés despolpados no Brasil era de cerca de 500 mil sacas anuais em 2004; hoje, está em torno de 4 milhões.
A expansão é a principal razão pela qual a questão voltou a ser avaliada -e, pela primeira vez, por iniciativa da própria ICE.
Para Braga, esse fator, aliado ao empenho do ministro da Agricultura, Wagner Rossi, por uma solução favorável, aumenta as chances de êxito do país.
Fonte: Folha de São Paulo
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