O café invadiu o cerrado mineiro graças ao investimento em irrigação que viabilizou a implantação dos cafezais. Na década de 70, a produtividade média no sequeiro ficava entre 15 e 17 sacas por hectare. Com o café irrigado, passou para 40 sacas.
É a florada que determina se a safra vai ser boa ou não. Em Indianópolis (MG), as flores aparecem na época certa por causa da irrigação. A seca este ano castigou o Triângulo Mineiro e, se não fosse à garantia de água no cafezal, o produtor teria contabilizado prejuízos.
A Fazenda Castelhana, em Monte Carmelo, no Triângulo Mineiro, foi uma das primeiras a investir em irrigação no café. O cafeicultor Diogo Tudela perdeu 92% da safra em 1985 por causa da seca. Não teve mais dúvida e, no ano seguinte, adotou a irrigação e mudou os rumos da propriedade.
– A gente conseguiu ter um incremento grande na produção. Em 25 anos, praticamente dobrou a produtividade através da irrigação porque a água é um fator totalmente limitante na nossa região – afirma o produtor Diogo Tudela, da Fazenda Castelhana.
Atualmente ele produz 30 mil sacas em 785 hectares. Trabalha com tecnologia sustentável, mede coeficiente de evaporação, conhece a capacidade do solo e a hora de irrigar. Tudela acredita que a sociedade está desinformada sobre como os produtores trabalham para reduzir o consumo de água e que a irrigação não é o ano inteiro, e sim, nos meses de abril e maio e setembro e outubro.
– Eu acho que existe muita falta de informação da sociedade porque existe um preconceito muito grande ainda em relação ao agricultor, principalmente quando se fala em irrigação, porque eles acham que a gente está desperdiçando água. Está faltando conhecimento para as pessoas saberem que para você irrigar existe muita tecnologia, muita informação para acionar o sistema, seja ele qual for – acrescenta o produtor.
O custo é o que preocupa. A taxa de energia elétrica aumentou em seis vezes nos últimos 15 anos. Tudela gasta mais de R$ 400 mil por safra – isso que não pode utilizar no horário de pico, das 18h às 21h – cerca de 70% por pivô central, o restante com gotejamento. Ele já investiu mais de R$ 500 mil por conta própria no sistema de distribuição de energia e teve que doar para a concessionária. Hoje, necessita ampliar em 10% a capacidade do sistema, mas falta recurso. A energia elétrica limita o avanço.
– A qualidade que a gente recebe aqui na energia não é a qualidade ideal. A gente vive sofrendo com queda de tensão, queda de voltagem e paralisações com ou sem aviso. Ficamos à mercê dessa qualidade, com queima de motores, com falta de suprimento nas épocas mais necessárias. A gente sofre bastante com isso.
O cafeicultor Gilberto Ferrarini marca, em cada setor do cafezal, quantas horas de água está irrigando. O tensiômetro colocado a 20, 40 e 60 centímetros faz a leitura de como está a umidade no solo, a que profundidade a água está chegando. O sistema é de gotejamento: a caixa de água armazena o que vem de quatro poços artesianos para garantir a irrigação em toda a fazenda. Difícil foi vencer a burocracia para conseguir outorga de água, a autorização que o produtor precisa para implantar o sistema.
– Todos os órgãos públicos em Minas Gerais são muito morosos. O processo todo é muito demorado, é muito documento e, às vezes, acontece até de sumir documento nos próprios órgãos. Com as mudanças estruturais que eles fazem, sai de Uberlândia vai para Belo Horizonte, de Belo Horizonte volta para Uberlândia. Teve o caso de um processo meu que sumiu por cinco anos. São coisas que, para o produtor, são muito difíceis. Além de você estar pagando, tendo esse custo todo, passa a estar irregular com relação a uma coisa que você já fez o pedido – diz Ferrarini.
Uma das alternativas, segundo Devanir dos Santos, gerente de Uso Sustentável de Água e Solo da Agência Nacional de Águas (ANA), é entrar com pedido de outorga no site da instituição.
– É possível montar, no site da ANA, um processo para fazer o pedido de outorga. Na medida do possível, são solicitadas as documentações. A ANA tem o compromisso de liberar em até 60 dias. Quando demora é porque as demandas não foram atendidas. A ANA não cobra por suas outorgas, diferente dos Estados – explica.
Fonte: Canal Rural
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