Personagens que vivenciaram e promoveram o nascimento do Café do Cerrado relatam suas experiências
Mais do que um produto, uma história. Mais do que uma marca, uma somatória de vidas. Assim pode ser definido o Café do Cerrado. O sabor inigualável, a qualidade superior, a região demarcada, são elementos já intrínsecos ao seu nome, mas como esse café surgiu, as dificuldades enfrentadas, as pessoas que deram vida a este produto e os desafios vencidos são fatos que merecem destaque, pois fornecem ao Café do Cerrado um sabor a mais, uma emoção maior a cada xícara.
Uma história se faz com pessoas e as pessoas que geraram o Café do Cerrado têm muito a contar, com orgulho da história que escreveram, e ainda escrevem.
O nascimento do Café do Cerrado
Antes da vinda de paranaenses, paulistas e mineiros do Sul de Minas, houve fatos que impulsionaram o cultivo do café em Patrocínio, fatos esses que chamaram a atenção dos cafeicultores das outras regiões e os trouxeram até aqui, algo ultrapassa somente a motivação pela busca de uma região climática favorável, livre das geadas. No início da década de 70, o engenheiro Olímpio Garcia Brandão foi nomeado prefeito de Patrocínio e viu na cafeicultura uma das alternativas promissoras, pois na época havia um projeto oficial de revigoramento do parque cafeeiro com linhas de crédito facilitadas para áreas consideradas aptas à cafeicultura. Primeiro desafio: Patrocínio não era uma dessas áreas. Porém, o prefeito não se deu por vencido e buscou apoio em estudo de engenheiros agrônomos renomados que vieram a Patrocínio a seu convite, declarando, após pesquisas minuciosas, que o município estava apto a produzir café.
Com financiamentos vantajosos e valores de terra atrativos, o plantio de café na região atraiu produtores além dos limites de Patrocínio, como relembra o cafeicultor Maurício Carvalho Brandão. “Produtores locais se interessaram pela nova atividade e um grande número de produtores de outras regiões veio para Patrocínio em busca de novas oportunidades. Eles vieram porque havia terras baratas e financiamentos para o plantio do café. Esta gente trouxe culturas diferentes que se misturaram à nossa ‘mineiridade’ e assim nos tornamos um povo melhor. A cafeicultura implantada em nossa região é obra conjunta de um grande número de pessoas anônimas. O suor que foi vertido, bem simboliza o compromisso de fé necessário para aqueles que se renderam ao desafio de plantar café em região não tradicional, com características mais peculiares e que cada vez mais, exigia a aplicação de uma tecnologia própria e muito mais sofisticada, mas não disponível naquela época.”
Os desafios
A primeira grande dificuldade encontrada pelos pioneiros do Café do Cerrado foi o solo. Devido à tradição de plantio de café em solos com elevada fertilidade natural, criou-se o mito de que o café não podia, ou não precisava, ser adubado e os solos do cerrado, pobres, com elevada acidez e com baixíssimos níveis de materiais orgânicos e nutrientes naturais, não se mostrava favorável ao cultivo, foi então que a adubação se fez aspecto decisivo na continuidade do plantio de café na região. “Os solos mais argilosos do cerrado, aliado a uma utilização muito maior de máquinas para os tratos culturais, logo começaram a apresentar problemas sérios de compactação que exigiam condutas diferentes. Isto teve que ser feito e o cafeeiro respondeu magnificamente”, conta Maurício.
Enfrentadas e vencidas as primeiras dificuldades, o café da região se desenvolvia e começou a chamar a atenção pelo seu sabor diferenciado. Aguinaldo José de Lima, um dos idealizadores do Café do Cerrado, conta que foi preciso investir em estudos para descobrir porque a bebida era diferente das demais e foi então que o clima da região foi apontado como o responsável por tal feito. A região cafeeira cresceu, mais cafeicultores surgiram, porém, na metade da década de 80 os planos governamentais não favoreciam à cafeicultura e todos passaram a encontrar problemas no caminho, neste contexto uma outra grande dificuldade surgia. “Nesta época percebemos que ou nos movimentávamos e nos organizávamos ou não teríamos sucesso no nosso negócio”, comenta Aguinaldo. Foi então que no ano de 1986 a ACARPA – Associação dos Cafeicultores da Região de Patrocínio foi criada para unir e fortalecer a classe cafeicultora. “As dificuldades foram muitas, havia a falta de dinheiro, a desconfiança dos produtores neste tipo de organização, mas o que nos impulsionou a seguir adiante foi a reunião do grupo, a nossa união. O grupo tinha muitas idéias, na época difíceis de serem alcançadas, porém a nossa coragem de seguir em frente, apesar das dificuldades foi fundamental”, rememora o cafeicultor José Luiz Alvarez Garcia.
A organização aos poucos aconteceu, vieram as associações e as cooperativas e a marca Café do Cerrado nasceu. Para consolidá-la, e para promovê-la, várias atitudes ousadas e corajosas norteiam esta saga, como a criação do Seminário do Café do Cerrado, a busca pela demarcação da região junto aos órgãos governamentais, a inserção do café em outros países, a utilização da imprensa para ganhar projeção nacional, entre tantos outros fatos ousados, não menos importantes.
O sentimento
O pioneirismo e o idealismo são elementos indissociáveis da história do Café do Cerrado, produto que hoje é apreciado pelo mundo pela qualidade, pelo sabor e muito pela organização implantada. Ao olhar para trás o sentimento destes personagens é o mesmo. “De longe o amor pelo Café do Cerrado é grande e sinto orgulho em fazer parte desta história. Sinto-o como um filho que cresceu e está seguindo o seu caminho. É bom saber que as coisas estão funcionando e fico satisfeito em ver os caminhos que estão sendo tomados”, afirma Aguinaldo, que hoje mora em Brasília e é Coordenador Geral das Câmaras Setoriais do Ministério da Agricultura.
Já José Luiz diz olhar o Sistema Café do Cerrado hoje com muito mais razão do que emoção e que neste mundo globalizado, o Sistema veio para ajudar a profissionalização do setor, servindo de modelo de estrutura organizacional, no sentido de vanguarda e por isso sente muito orgulho em saber que faz parte deste processo. Maurício Brandão também orgulha-se da história que ajudou a escrever e deixa um recado importante. “Este é um lindo sonho que precisa continuar sendo sonhado pelas gerações futuras, com as mesmas motivações e criatividade que sempre caracterizaram as decisões mais importantes desta saga. Precisamos transmitir aos novos cafeicultores, não importa de onde eles virão, os valores que surgiram das dificuldades que enfrentamos no passado e principalmente naquele espírito inovador e empreendedor que transformou o Café do Cerrado em uma experiência única”. Por ASCOM Expocaccer
Fonte: Revista Cafeicultura
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