Produção insuficiente e aumento mundial do consumo desafiam especialistas, que se reúnem para discussões em Londres
O Brasil é o maior produtor de café do mundo. A safra atual (2009/2010), que está sendo colhida, resultará em cerca de 47 milhões de sacas (de 60 quilos) do produto - uma das maiores da história da cafeicultura no País. O consumo de café vem aumentando no Brasil nos últimos anos, assim como no mundo. A análise dessas informações leva à sensação de um cenário bastante positivo, entretanto, otimismo não é a palavra que se deve colher já a partir dos próximos meses.
Segundo Maurício Lima Verde, vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp) e representante dos produtores brasileiros do setor privado na Organização Internacional do Café (OIC), sem aumento da produção de café e com o crescente nível do consumo mundial, o mercado prevê escassez do produto em curto e médio prazos - ou seja, a partir do ano que vem. Com isso, reflexos como a alta do preço repassado ao consumidor final seriam inevitáveis.
Lima Verde embarca hoje para Londres, na Inglaterra, onde participará de uma reunião da OIC, levando preocupação na bagagem. Segundo ele, até a próxima semana serão feitos profundos debates sobre o tema, mas a grande meta é conseguir incentivos para o aumento da produção mundial de café.
Sem isso, torna-se cada vez mais real a previsão de falta do produto em nível global, já que não há como retroceder os índices de consumo e também não há estoque suficiente de sacas para suprir a escassez anunciada.
Como agravante dessa situação está o nível da produção dos países que ocupam a segunda e a terceira colocações entre os maiores produtores do grão. No Vietnã serão colhidas cerca de 15 milhões de sacas na safra atual, e na Colômbia, 12 milhões. Ou seja, há uma distância muito grande entre o Brasil e os países que o seguem no ranking de produção mundial.
Consumo
No Brasil, atualmente se consome cerca de 18 milhões a 20 milhões de sacas de café ao ano no mercado interno. Nos últimos cinco anos, o aumento do consumo foi de 4,3% na média. Nos Estados Unidos, principal consumidor do produto, são cerca de 22 milhões de sacas consumidas por ano. Nesta safra, serão colhidas no mundo todo cerca de 120 milhões de sacas.
“Se o Brasil quiser passar para uma produção com média de 50 milhões de sacas - sendo 20 milhões para consumo interno -, vai precisar de incentivo. E essa realidade é a mesma no mundo todo. No caso do Brasil, o câmbio (girando em torno de R$ 1,70 em relação ao dólar) está prejudicando demais os produtores. O ideal seria que a cotação estivesse em torno de R$ 2,20”, diz Lima Verde.
Apesar de se vender bem a saca no Exterior (cerca de US$ 200), no Brasil ela é comercializada por R$ 300,00, sendo inferior ao custo de produção. “Então, sem incentivos dos governos dos países produtores, não há como estimular o aumento da produção de café”, acrescenta.
Segundo Lima Verde, no Brasil existem 300 mil propriedades cafeeiras. Entretanto, cerca de 70% delas são pequenas, com aproximadamente 50 hectares (cada hectare equivale a 10 mil metros quadrados).
Com as técnicas atuais de plantio, é possível aumentar o número de pés de café dentro das propriedades já existentes - já que novas plantações não são indicadas .
Porém, o custo exigido para isso extrapola as possibilidades do produtor diante do valor venal que se consegue atualmente com o real valorizado perante o dólar. Ou seja, sem incentivos financeiros, volta-se ao início desta intrincada conta que não fecha: o crescimento mundial do consumo contra números bem menos positivos em relação à produção.
Fonte: Revista Cafeicultura
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