A água residuária do descascador de café – máquina utilizada para retirar a casca e a mucilagem (polpa) do grão e agregar valor ao produto durante a pós-colheita – pode ser aproveitada para enriquecimento dos solos. Isso foi o que constatou um estudo desenvolvido pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper).
De acordo com a pesquisa, a água que sobra do equipamento é rica em Nitrogênio, Potássio e outros nutrientes essenciais para o desenvolvimento das plantas. Em experimentos feitos com o milho, por exemplo, foi observado um desenvolvimento três vezes maior nas plantas que receberam a água residuária.
No Espírito Santo, existem aproximadamente 1,2 mil unidades de beneficiamento de frutos de café que geram em torno de 170 milhões de litros de águas residuárias por ano.
Oportunidade
Segundo o pesquisador do Incaper responsável pelo estudo, que também é doutor em Solos e Nutrição de Plantas, Luiz Carlos Prezotti, a descoberta transforma um problema em oportunidade, porque a água residuária muitas vezes é tida como um entrave para os agricultores, já que o material pode causar danos ao meio ambiente caso descartada diretamente nos cursos de rios.
“Durante o processamento dos frutos são gerados grandes volumes de águas residuárias (ARC), ricas em material orgânico e nutrientes como o nitrogênio, potássio, fósforo, entre outros. Estas águas se lançadas em corpos hídricos proporcionam redução acentuada da concentração de oxigênio dissolvido. Com isto, pode ocorrer morte de peixes, organismos aeróbios e danos à flora, além de proporcionar odores desagradáveis. A alta concentração de nutrientes solúveis promove a eutrofização, colocando em risco a qualidade das águas e possibilitando o desenvolvimento excessivo de plantas aquáticas. Por esta razão, é proibido, por lei, o lançamento destas águas em mananciais”, explica o pesquisador.
Absorção
Segundo ele, a água residuária é armazenada em reservatórios e precisa ser bombeada até lagoas em topos de morros, para que ela seja absorvida pelo solo, que filtra as impurezas até que a água atinja o lençol freático. “As ARCs podem ser consideradas como uma fonte de poluição, contudo podem ser excelentes fontes de matéria orgânica e nutrientes para o solo, reduzindo a necessidade de aplicação de fertilizantes”, completa Prezotti.
O pesquisador explica ainda que água residuária pode ser utilizada em qualquer cultura, entretanto, deve-se usar quantidades adequadas, observando a demanda de nutrientes do solo, da planta e a concentração da água.
“Doses excessivas podem ser prejudiciais à planta. O ideal é que seja realizada a amostragem laboratorial da água e do solo, levando-se em consideração o teor de potássio de ambos e também as exigências da cultura. Caso não seja possível a análise, a recomendação é que seja aplicado no máximo 20 litros da água residual por m² por ano”, explica.
Valetas
Além do simples despejo da água, outra forma de aplicação do material, principalmente em terras declivosas, é por meio de valetas, para evitar que a água escorra.
A próxima etapa do estudo já está programada: o pesquisador pretende testar a eficiência da aplicação da água residuária em plantações de café por meio da asperssão (aproveitando o mesmo equipamento utilizado para irrigação). Prezotti quer descobrir os efeitos desta água nas plantas, e se há alguma influência da mesma quanto à proliferação de pragas e doenças.
Os principais nutrientes presentes na água residuária do descascador de café são: potássio (K), nitrogênio (N), fósforo (P), cálcio (Ca), magnésio (Mg), enxofre (S), zinco (Zn), boro (B), cobre (Cu), ferro (Fe) e Manganês (Mn).
Fonte: Campo Vivo
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