quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Café amargo: produtor sofre com alto custo

Os elevados custos de produção do café, a cotação do produto inferior à de anos anteriores e a quebra na safra por conta da estiagem estão praticamente zerando o lucro dos produtores. E a cafeicultura, a principal atividade agrícola do Espírito Santo, até então responsável pela manutenção de inúmeras propriedades, já não está mais garantindo o sustento das famílias que se dedicam à atividade.

A pesquisa, realizada pelo Centro de Inteligência de Mercados (CIM) em três municípios capixabas e divulgada pela Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA), mostra que os custos de produção estão acima do valor que os produtores recebem pela saca de café. "Estamos pagando para trabalhar", destaca o cafeicultor e presidente do Sindicato Rural de Jaguaré, Carlos Giovanni Sossai.

O levantamento feito no início do ano pelo CIM - que é ligado à Universidade de Lavras (MG) - em Vila Valério, Jaguaré (os dois maiores produtores de conilon) e em Iúna (grande produtor de arábica), e atualizados em julho deste ano, comprovam que a cafeicultura não está assegurando lucro para a grande parte dos produtores rurais.

O preço da saca de conilon, que no ano passado era vendida por preço que variava entre R$ 200 e R$ 220, hoje está custando R$ 150, em média. É menos que o custo total de produção de R$ 155,85 (apurado em Jaguaré) e de R$ 152,65 (apurado em Vila Valério). O levantamento foi feito com base na produtividade de 60 sacas por hectare. A mão de obra foi o que mais pesou nos custos.

No caso do arábica, o sistema de colheita é feito em parceria. No entanto, a situação dos produtores desse tipo de café não é diferente. De acordo com a pesquisa, o custo para produção, em lavoura com produtividade média de 25 sacas por hectare, é de R$ 311,62. A saca do produto está sendo comercializada por R$ 200, em média. Valor abaixo dos custos de produção. A situação desestimula o cafeicultor a investir em qualidade, argumenta o presidente da Comissão Técnica de Café da Federação da Agricultura e Pecuária do Espírito Santo (Faes), José Umbelino de Castro.

Sossai lembra que os produtores de conilon estão enfrentando o terceiro ano consecutivo de seca, o que representa, para o produtor, queda do volume de produção e de qualidade do grão. Na safra de conilon deste ano, encerrada no começo de setembro, por exemplo, a previsão inicial era aumento de 30% do volume. Entretanto, os números finais apontaram queda de 3%.

No período de 2002 a 2008, a produção de conilon foi um bom negócio para os produtores. Mas, nos últimos anos, por conta do clima desfavorável e queda nos preços, a atividade não tem sido tão lucrativa. Sossai lembra que muitos produtores que nos últimos dois anos buscaram financiamento nos bancos, hoje estão com dificuldade para quitar as dívidas.

Custos de produção do café por saca de 60 kg

Jaguaré (conilon)
Custo total - R$ 152,65
Mão de obra - 39%
Insumos - 39%
Mecanização - 8%
Outros - 24%

Vila Valério (conilon)
Custo total - R$ 155,85
Mão de obra - 46%
Insumos - 18%
Outros - 36%

Iúna (arábica)
Custo total - R$ 311,62
Mão de obra - zero
Insumos - 54%
Outros - 46%
Fonte: Jornal A Gazeta

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