Safra do café comprometida
Júlio Rocha
Em plena época das chuvas, o Espírito Santo passa por uma situação crítica para a sua agricultura e pecuária, pela ausência quase total de ocorrência de chuvas em período superior a 90 dias em todo o seu território, chegando a 120 dias, em alguns municípios. O registro a menor entre 50% e 70% de chuvas no período já compromete 45%do café conilon não-irrigado do Estado para a próxima safra, comprometendo também a safra 2010/2011, porque as lavouras não emitirão ramos novos suficientes para se garantir as produções tradicionais.
As elevações das temperaturas máximas registradas no período superam entre 1,7ºC e 3,6ºC as máximas diárias de considerável período histórico. O decréscimo da produção de leite está sendo ainda de 30% (300.000l/dia), porque está sendo consumida a ração que seria usada no período de entressafra.
Os prejuízos da agricultura e pecuária até o momento são da ordem de R$ 700 milhões. Ainda que as culturas irrigadas possam garantir significativo volume da produção, a situação é muito grave porque a maioria dos produtores, que não dispõem de irrigação, terão lamentavelmente as maiores perdas percentuais de suas lavouras.
Constantes reuniões têm sido realizadas com os órgãos envolvidos para a discussão das possíveis soluções para se atenuar tão grave realidade. Questões emergenciais, como a renegociação das dívidas, têm merecido atenção especial, com o apoio da Secretaria de Estado da Agricultura, Aquicultura e Pesca, junto aos organismos financeiros e demais órgãos representativos dos produtores.
A descapitalização do segmento e a imperiosa necessidade de se planejar e implementar ações estruturantes, que envolvem investimentos, merecem atenção especial, como a definição de uma sólida iniciativa de captação e reserva de água. A facilitação dos organismos de controle, na desburocratização possível dos pedidos de licenciamento e outorga, bem como da atenuação ou abolição das taxas cobradas devem ser tratadas como prioridade absoluta.
O período crítico, comprovado pelas estações meteorológicas, tem que ser descontados de eventuais vistorias dos imóveis rurais. O esforço conjugado de órgãos governamentais, da sociedade civil, de prefeituras e bancos para se alcançar o mais rápido possível a decretação de Estado de Emergência nos municípios facilitará muito a renegociação das dívidas. Disponibilizamos a Federação de Agricultura, os sindicatos rurais e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) para prestarmos com os demais parceiros as orientações e a capacitação de que nossos produtores tanto necessitam e merecem nessa situação de imensas dificuldades.
Júlio Rocha é presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Espírito Santo (Faes).
Perdas são de até 80%
Enio Bergoli
Nos últimos meses, vivenciamos uma intensa anomalia climática no nosso Estado. Neste que deveria ser o tradicional período das águas, as precipitações foram poucas e muito irregulares, chamadas "chuvas de manga". Na média, de novembro até o momento, choveu por aqui menos da metade do esperado para o período, na maioria de nossas regiões. Para agravar o quadro, no mês de janeiro, a média das temperaturas máximas ficou entre 2º e 4º C acima da média histórica.
A falta e a irregularidade das chuvas, aliadas às elevadas temperaturas, provocam a redução da produção agropecuária, com prejuízos nas propriedades rurais que variam de 10% a 80%, conforme o produto, e o sistema de produção empregado. Vale lembrar que a agricultura é a atividade econômica mais sensível às adversidades climáticas.
Neste momento, duas ações emergenciais para o enfrentamento da seca estão em andamento. Os municípios mais afetados devem iniciar o processo para a decretação de situação de emergência, o que facilita e acelera procedimentos públicos para aquisições e contratações. A outra ação emergencial é a prorrogação ou negociação de dívidas de crédito rural. O governo do Estado já pactuou essa medida com os agentes financiadores. Os agricultores afetados devem procurar as agências onde o crédito foi contraído, contando com o apoio dos escritórios do Incaper e dos sindicatos que atuam no rural. Para os agricultores familiares há ainda a possibilidade de acionar o seguro Proagro.
Contudo são as ações estruturantes que possibilitam a convivência com essa e com as inúmeras secas que, infelizmente, ainda estão por vir. Em resumo, devemos ter em mente que não há produção agrícola sem água e que solos muito expostos, com pouca cobertura vegetal, não conseguem boa armazenagem. E o solo é o nosso grande reservatório de água.
Armazenar água, por meio da construção de barragens individuais e coletivas, utilizar métodos mais econômicos de irrigação, usar variedades que toleram o déficit hídrico, priorizar sistemas agroflorestais e plantios mais adensados ou sombreados são exemplos de ações estruturantes para conciliar a falta de chuvas com a produção agrícola.
Hoje há uma parcela de agricultores que já adotam essas e outras medidas estruturantes, boa parte advinda de programas conduzidos pelo governo do Estado, com uso de recursos próprios ou de crédito rural. E são justamente esses produtores rurais que têm os menores percentuais de perdas de safras, em épocas como essa.
Precisamos, definitivamente, conciliar a geração de renda no campo, via adoção de tecnologias que usem menos água e energia, com a recuperação e preservação dos recursos naturais. A solução dessa equação será uma vitória de todos e um legado que deixaremos.
Enio Bergoli é secretário de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca.
Fonte: Jornal A Gazeta
Júlio Rocha
Em plena época das chuvas, o Espírito Santo passa por uma situação crítica para a sua agricultura e pecuária, pela ausência quase total de ocorrência de chuvas em período superior a 90 dias em todo o seu território, chegando a 120 dias, em alguns municípios. O registro a menor entre 50% e 70% de chuvas no período já compromete 45%do café conilon não-irrigado do Estado para a próxima safra, comprometendo também a safra 2010/2011, porque as lavouras não emitirão ramos novos suficientes para se garantir as produções tradicionais.
As elevações das temperaturas máximas registradas no período superam entre 1,7ºC e 3,6ºC as máximas diárias de considerável período histórico. O decréscimo da produção de leite está sendo ainda de 30% (300.000l/dia), porque está sendo consumida a ração que seria usada no período de entressafra.
Os prejuízos da agricultura e pecuária até o momento são da ordem de R$ 700 milhões. Ainda que as culturas irrigadas possam garantir significativo volume da produção, a situação é muito grave porque a maioria dos produtores, que não dispõem de irrigação, terão lamentavelmente as maiores perdas percentuais de suas lavouras.
Constantes reuniões têm sido realizadas com os órgãos envolvidos para a discussão das possíveis soluções para se atenuar tão grave realidade. Questões emergenciais, como a renegociação das dívidas, têm merecido atenção especial, com o apoio da Secretaria de Estado da Agricultura, Aquicultura e Pesca, junto aos organismos financeiros e demais órgãos representativos dos produtores.
A descapitalização do segmento e a imperiosa necessidade de se planejar e implementar ações estruturantes, que envolvem investimentos, merecem atenção especial, como a definição de uma sólida iniciativa de captação e reserva de água. A facilitação dos organismos de controle, na desburocratização possível dos pedidos de licenciamento e outorga, bem como da atenuação ou abolição das taxas cobradas devem ser tratadas como prioridade absoluta.
O período crítico, comprovado pelas estações meteorológicas, tem que ser descontados de eventuais vistorias dos imóveis rurais. O esforço conjugado de órgãos governamentais, da sociedade civil, de prefeituras e bancos para se alcançar o mais rápido possível a decretação de Estado de Emergência nos municípios facilitará muito a renegociação das dívidas. Disponibilizamos a Federação de Agricultura, os sindicatos rurais e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) para prestarmos com os demais parceiros as orientações e a capacitação de que nossos produtores tanto necessitam e merecem nessa situação de imensas dificuldades.
Júlio Rocha é presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Espírito Santo (Faes).
Perdas são de até 80%
Enio Bergoli
Nos últimos meses, vivenciamos uma intensa anomalia climática no nosso Estado. Neste que deveria ser o tradicional período das águas, as precipitações foram poucas e muito irregulares, chamadas "chuvas de manga". Na média, de novembro até o momento, choveu por aqui menos da metade do esperado para o período, na maioria de nossas regiões. Para agravar o quadro, no mês de janeiro, a média das temperaturas máximas ficou entre 2º e 4º C acima da média histórica.
A falta e a irregularidade das chuvas, aliadas às elevadas temperaturas, provocam a redução da produção agropecuária, com prejuízos nas propriedades rurais que variam de 10% a 80%, conforme o produto, e o sistema de produção empregado. Vale lembrar que a agricultura é a atividade econômica mais sensível às adversidades climáticas.
Neste momento, duas ações emergenciais para o enfrentamento da seca estão em andamento. Os municípios mais afetados devem iniciar o processo para a decretação de situação de emergência, o que facilita e acelera procedimentos públicos para aquisições e contratações. A outra ação emergencial é a prorrogação ou negociação de dívidas de crédito rural. O governo do Estado já pactuou essa medida com os agentes financiadores. Os agricultores afetados devem procurar as agências onde o crédito foi contraído, contando com o apoio dos escritórios do Incaper e dos sindicatos que atuam no rural. Para os agricultores familiares há ainda a possibilidade de acionar o seguro Proagro.
Contudo são as ações estruturantes que possibilitam a convivência com essa e com as inúmeras secas que, infelizmente, ainda estão por vir. Em resumo, devemos ter em mente que não há produção agrícola sem água e que solos muito expostos, com pouca cobertura vegetal, não conseguem boa armazenagem. E o solo é o nosso grande reservatório de água.
Armazenar água, por meio da construção de barragens individuais e coletivas, utilizar métodos mais econômicos de irrigação, usar variedades que toleram o déficit hídrico, priorizar sistemas agroflorestais e plantios mais adensados ou sombreados são exemplos de ações estruturantes para conciliar a falta de chuvas com a produção agrícola.
Hoje há uma parcela de agricultores que já adotam essas e outras medidas estruturantes, boa parte advinda de programas conduzidos pelo governo do Estado, com uso de recursos próprios ou de crédito rural. E são justamente esses produtores rurais que têm os menores percentuais de perdas de safras, em épocas como essa.
Precisamos, definitivamente, conciliar a geração de renda no campo, via adoção de tecnologias que usem menos água e energia, com a recuperação e preservação dos recursos naturais. A solução dessa equação será uma vitória de todos e um legado que deixaremos.
Enio Bergoli é secretário de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca.
Fonte: Jornal A Gazeta