quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Seca castiga mais de 50 mil agricultores

Os prejuízos com a estiagem ultrapassam R$ 400 milhões no Estado. Lavouras mais atingidas são as de café, cana e maracujá

A estiagem que atinge o Espírito Santo já causou prejuízos para mais de 50 mil agricultores em todo o Estado. Os mais atingidos são os agricultores familiares capixabas - 70% deles sofrem com a seca, o que significa que somam 40 mil dos 50 mil que estão tendo prejuízos.

Entre as culturas mais atingidas estão o café conilon e o arábica. Algumas lavouras já têm perdas de 50%. Segundo dados da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado do Espírito Santo (Fetaes), divulgados no último dia 12, os prejuízos na agricultura já ultrapassam R$ 400 milhões.

O presidente da Fetaes, Paulo de Tarso Caralo, disse que a seca atinge todas as regiões capixabas.

“Até as regiões serrana e Sul, que tradicionalmente têm um bom índice de chuvas, estão sofrendo com a seca. Para se ter uma ideia, nas duas últimas semanas a perda das lavouras de café conilon, no Norte do Estado, já saltaram de 30% para 40%. Em algumas lavouras irrigadas, as perdas já passam de 15%. Esperamos que chova logo no Estado”, lamentou Caralo.

Além do café, a produção de leite, a cana-de-açúcar, a pimenta-do-reino, o maracujá, o mamão, o cacau, entre outras culturas, também já tiveram reduções significativas. No caso do mamão e do maracujá, as perdas são de até 80% da produção. Em algumas regiões, a água está escassa até para o consumo humano.

Entre 1º de novembro de 2009 e 11 de fevereiro de 2010, a quantidade de chuva no Espírito Santo foi bem menor do que a média histórica do período. O caso mais grave no Estado é registrado na região Nordeste, onde a chuva foi 55% menor que a média.

O aumento da temperatura é outro fator preocupante. Entre 1º de novembro de 2009 e 31 de janeiro de 2010, a média das temperaturas máximas foi superior em até 3,7ºC, nas regiões Sul e Noroeste, em relação à média dos anos anteriores nos mesmos períodos.

A safra do café, que segundo projeção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) seria recorde, já teve uma queda considerável. A estimativa da Fetaes é de que, só nas lavouras de conilon, a queda chegue a mais de 1,7 milhão de sacas.

AS LAVOURAS
Perdas no Estado
> CAFÉ CONILON: lavouras irrigadas, 15%; lavouras não irrigadas, 40%
> CAFÉ ARÁBICA: 25%
> PRODUÇÃO DE LEITE: 20%
> CANA-DE-AÇÚCAR: 25%
> MARACUJÁ: 80% da produção de abril/maio
> MAMÃO: 20%
> PIMENTA-DO-REINO: 25%
Fonte: Incaper, Seag e Fetaes.

Produção em 2011 vai ficar comprometida, diz secretaria

Em São Mateus, a seca já dura mais de 100 dias e o engenheiro agrônomo da Secretaria Municipal de Agricultura, Ézio Sena, afirmou que o impacto desta estiagem será sentido no próximo ano.

“Já temos perdas significantes na produção deste ano e, caso não chova até maio, quando começa a época de secas, sentiremos também na produção de 2011. Estamos desde o dia 4 de novembro sem chuvas significantes. O café, que deveria estar crescendo, está comprometido”, declarou.

Segundo o Incaper, choveu em fevereiro na região Norte 24,2 milímetros, o que representa cerca de um quarto da quantidade necessária por dia: 80 milímetros.

Prazo para quitar dívida

Os produtores rurais que têm empréstimo bancário e que tiveram prejuízos nas lavouras poderão renegociar as dívidas. É o que afirma a Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag).

Para isso, o produtor tem que procurar um escritório local do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) para solicitar um laudo que ateste o prejuízo.

O presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Espírito Santo (Fetaes), Paulo de Tarso Caralo, disse que nos próximos dias haverá outra reunião com os representantes das instituições financeiras para reforçar o pedido feito no início do mês.

“Vamos analisar os contratos de empréstimos para ver o que pode ser feito. Queremos que a dívida seja renegociada ou então que seja aberta uma nova linha de crédito com pagamentos no próximo ano. Se houver necessidade nos reuniremos com representantes do governo federal”, afirma Caralo.

Segundo ele, tem que haver medidas urgentes para que situações como essa não aconteçam nos próximos anos. “É preciso que seja feita uma educação ambiental e projetos de conservação e recuperação das nascentes”, conclui.

CHUVAS

De acordo com informações do Instituto Climatempo, uma forte frente fria, acompanhada de um ciclone extratropical que chega ao País nesta semana, poderá trazer chuva para o Estado.

A expectativa é de que as condições de chuva aumentem a partir de amanhã. A previsão é de que a frente fria permaneça no Espírito Santo pelo menos até o domingo.
Fonte: Jornal A Tribuna (24-02-10) - Reportagem de: Fábio Seganttini, Julio Huber, Nelson Gomes e Wilton Junior.

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