terça-feira, 30 de março de 2010

Castelo aposta na qualidade para valorizar o Café

Nove em cada dez propriedades rurais de Castelo tem uma plantação de Café em sua propriedade. Uma fração grande e que aumenta a preocupação do município diante de qualquer problema que possa afetar sua produção, como na última estiagem que atingiu a região sul do Espírito Santo no início de 2010. Assim, o município começa a trilhar um novo caminho para dar suporte aos seus produtores, focando na qualificação profissional e na avaliação dos grãos.

Castelo produz anualmente, cerca de 220.00 sacas de café, sendo 130.000 da variedade Conilon e 90.000 da Arábica. Porém, a previsão é que neste ano a safra tenha uma queda de 30% por causa da estiagem. Segundo o secretário de agricultura do município, Domingos Fracaroli, a cidade acompanha as perdas registradas por outros produtores de café do sul do estado.

Mas agora, diante das perdas, o município busca estreitar o contato com o produtor rural para mostrar os benefícios de se investir em qualidade. Como exemplo, o gerente do departamento de agricultura do município, Sérgio Meneguelli, cita o modo como diferentes lavouras enfrentaram a crise. "As que tinham tecnologia não tiveram grandes perdas se comparadas com outras que não possuem esse recurso".

Para produzir um café de qualidade, Sérgio destaca o investimento na profissionalização dos produtores familiares e na assistência técnica. O objetivo é que eles tenham um controle maior da sua plantação, como um registro dos gastos para realizar os investimentos necessários. Só assim, será possível levar a tecnologia ao campo. O produtor Carlos Arantes é um exemplo. Com um sistema de irrigação em sua plantação, calcula ter perdido 5% de sua safra. Um número bem menor que a média do município.

O secretário de agricultura acrescenta que a qualidade pode valorizar o café em até 50% em relação ao preço de mercado. Para incentivar os produtores a produzir com qualidade, a cidade hoje conta com vários eventos, como palestras em conjunto com o Incaper e o SENAR, a Festa do Café Arábica e Conilon e o Concurso de Qualidade de Café, cujas inscrições para a segunda edição devem ser abertas em maio. Estes eventos além de premiar os produtores que fazem um bom café, colocá-los em contato com outras formas de produção, a fim de demonstrar que não é difícil se adequarem a novos modelos e valorizar o produto. Como exemplo, o engenheiro agrônomo da Incaper de Castelo, Caio Louzada Martins, cita que antes do o último Concurso de Qualidade de Café, o produtor o vendia por R$ 164,00 a saca. Hoje quem teve uma boa qualificação, consegue vender a mesma quantidade por R$ 220,00.

Caio também ressalta que o trabalho com o cafeicultor é feito de modo que pequenas mudanças no manejo possam se tornar um diferencial na hora de garantir a qualidade. Nas palestras oferecidas pela Incaper, eles focam em dois erros comuns: a secagem e a colheita. Muitos produtores que utilizam o secador, aceleraram o processo através do aumento do tempo de exposição. Isso faz com que o grão fique com cheiro de fumaça. Outro erro é fazer a colheita com o café ainda verde. Durantes as reuniões, realizadas em pequenos grupos na zona rural, o engenheiro agrônomo mostra que para ter uma remuneração diferenciada, é necessário fazer modificações.

Outro exemplo é citado por Sérgio, que destaca a importância de se optar por uma plantação sustentável, a qual todas as etapas do processo de plantio e colheita seriam acompanhadas, incluindo a formação do relevo da propriedade, o uso controlado de agrotóxicos, a preservação das nascentes e a preservação do solo. A união dessas técnicas faz com que além da qualidade, o produtor também seja reconhecido pelo seu processo de produção. Isso pode ser feito através das certificações, que mesmo ainda não presente no Espírito Santo, é uma forma de reconhecimento da qualidade do Café em todas as suas fases de produção.
Sala de Degustação

O secretário de agricultura Domingos Fracaroli diz que muitos produtores de café de Castelo plantam sem ter um acompanhamento da qualidade do seu produto. Assim, mesmo tendo qualidade, acabam vendendo por um preço menor. O resultado é que o ganho maior fica para o atravessador, que compra um café de qualidade por um preço baixo e o revende por um valor maior.

É nesse contexto que surgiu a Sala de Degustação e Classificação, um mini-laboratório que avalia o café dos produtores de Castelo para que eles conheçam melhor seu próprio produto. Para isso, não é necessário pagar taxas nem apresentar documentos pessoais, basta levar uma amostra de 200 a 300 gramas. Segundo o responsável pela sala, o técnico Rondinelio Sartori, o objetivo é definir a qualidade da bebida através de uma análise que consiste em três pilares: o aroma, o sabor e a acidez.

As amostras ficam expostas numa mesa. Ali, alguns grãos são moídos e outros permanecem intactos. O teste é bastante semelhante a produção do tradicional café líquido. Então, coloca-se água quente nos grãos moídos para que seja feita a análise da bebida. Após verificar o Ph e a pureza, o produtor recebe a avaliação do seu café. Ao ser questionado sobre o segredo para se ter um bom café, o técnico Rondinelio dá uma dica: tudo depende do manejo.

Associação

Os cafeicultores foram pegos de surpresa pela estiagem, gerando prejuízos que só poderão ser recuperados nas próximas safras. Porém, muitos deles conseguiram enfrentar este período com perdas menores, isso foi possível, além de outros fatores, através das associações. Formadas por um conjunto de produtores, elas são um espaço para troca de idéias e união para a dinamizar a produção. Uma delas é a Associação de Produtores de Café do Vale da Estrela do Norte, localizada em Castelo. Hoje ela conta com 32 associados que se reúnem de dois em dois meses. Um deles é o cafeicultor José Augusto Stein, que fez parte de sua fundação e em 2010 completa dois anos na organização.

"Começamos a associação com sete pessoas. Tínhamos necessidade de fazer compras em grupo e também de conhecer outras tecnologias. Fizemos viagens para cidades do norte do Espírito Santo, lá conhecemos mudas de café que eram apropriadas para o nosso terreno além de técnicas de irrigação. Hoje nos unimos para comprar adubos e mudas por um preço mais baixo e o nosso próximo passo é vender e transportar o nosso café. Assim, podemos aumentar nosso ganho, já que não vamos gastar com atravessadores".

Panorama das cidades produtoras de Café do Sul após a estiagem

Segundo Caio Louzada Martins, engenheiro agrônomo da Incaper de Castelo, os produtores devem ficar atentos para regulamentar os empréstimos. Caso consigam atestado que comprovem as perdas, poderão solicitar o adiamento do pagamento. Já os que têm propriedade nas cidades que decretaram estado de emergência, podem solicitar o seguro agrícola.

- A perda dos municípios sul capixaba varia de 10% a 60% da produção de café.

- Produtores que investiram em tecnologia, tiveram perdas de cerca de 5%

- O café com qualidade pode ter seu preço valorizado em 50% em relação ao de mercado.

Atílio Vivácqua

Perda: 30% a 40%
O que a prefeitura tem feito: Está dando ajuda para realizar alguns projetos de irrigação para produtores, pensando na próxima safra. Algumas máquinas foram cedidas para fazer a estrutura de irrigação. Incaper está emitindo relatórios para as propriedades que se encaixam nos critérios de prorrogação de dividas e da cobertura pelo seguro agrícola.

Cachoeiro de Itapemirim

Perda: 30% de perda.
O que a prefeitura tem feito: Está focando na recuperação da lavoura e no investimento para a próxima safra. Agora vai ajudar os produtores a fazer uma colheita criteriosa para não misturar grãos. Também vai incentivar a irrigação.

Castelo

Perda: 30%
O que a prefeitura tem feito: Auxílio aos produtores através do empréstimo de máquinas, como tratores. Incentivo a valorização da qualidade do Café. Estão fornecendo ajuda para adiamento do pagamento de financiamentos.

Mimoso do Sul

Perda: 50% Conilon e de 10 a 20% no Arábica.
O que a prefeitura tem feito: Como decretou emergência, alguns produtores terão direito ao seguro agrícola. Hoje também está focando em outras áreas que também tiveram perda, como no rebanho.

Muqui

Perda: 30% a 50%
O que a prefeitura tem feito: Como não foi decretado estado de emergência, os produtores não podem receber indenizações, como o Proagri.

Rio Novo do Sul

Perda: 50% a 60%
O que a prefeitura tem feito: Muitos produtores fizeram um financiamento pelo Pronaf, por isso hoje está ajudando a providenciar o adiamento do pagamento. Também está concedendo pequenas ajudas e orientando o produtor.
Fonte: GazetaOnline Sul

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